O silêncio do algoz: Face a face com um torturador do Khmer vermelho
O etnólogo francês François Bizot apresenta um testemunho pungente sobre o período em que foi prisioneiro do Khmer Vermelho e conviveu de perto com um dos algozes mais cruéis do genocídio no Camboja. Em 1971, quando era um jovem etnólogo em missão no Camboja, François Bizot foi detido pelo Khmer Vermelho, condenado à morte e mandado para um campo de prisioneiros no meio da selva. Seu carcereiro durante os três meses que esteve cativo era conhecido por Deuch, um intelectual de 28 anos que falava francês e seguia à risca as instruções de Pol Pot. Mas por um estranho senso de justiça desse homem, que acabou criando um laço com seu prisioneiro durante aquele período e conseguiu que ele fosse liberto, Bizot foi o único ocidental a sobreviver à prisão do Khmer Vermelho. Anos depois de ter passado pela prisão, o francês descobre que seu antigo algoz - mas também aquele que lhe salvou a vida - havia sido responsável por torturar e matar mais de 40 mil prisioneiros no Camboja. Nos processos do Khmer Vermelho que começaram em 2009, Bizot foi convocado a testemunhar contra Deuch, que recebera a alcunha de "algoz de Tuol Sleng". Depois de ter ficado escondido por muito tempo, ele foi preso e levado a julgamento, quando Bizot teve a chance de voltar a confrontar o homem que o manteve cativo. Este livro é o testemunho doloroso daquilo que o etnólogo descobriu sobre o torturador e sobre si mesmo, depois de revisitar o período de terror que experimentou na própria pele. O silêncio do algoz está entre as raras obras escritas por pessoas que sobreviveram a situações extremas e que nos permitem, por sua lucidez e sua descrição da crueldade, entender melhor esse complexo mistério que é o homem.