\"Entretanto as duas meninas atravessavam o jardim. Alice, a mais esbelta das duas, tinha certa vivacidade e petulância que revelavam a flor agreste, cheia de seiva, e habituada a se embalar ao sopro da brisa, ou a beber a luz esplêndida do sol. Seus cabelos de um louro cendrado, encrespando em opulentos anéis, voavam-lhe pelas espáduas, e às vezes com a mobilidade da gentil cabeça escondiam-lhe o rosto como um véu. Nessas ocasiões, com um simples e gracioso meneio da fronte ela atirava sobre os ombros a nuvem fragrante que lhe sombreava o rosado das faces.
Quem lhe via os grandes olhos velutados de azul, sempre límpidos e serenos, e os lábios mimosos sempre em flor, comparava naturalmente essa alma pura a um lago sereno engastado em um berço de boninas e cuja onda límpida é apenas frisada pela asa diáfana do silfo, pela pétala da flor, ou pelo suspiro da aragem.
Seu passo era ágil, rápido e sutil como o passarinho, de que tinha a volubilidade e a gentileza. Ela desferia de si ao mesmo tempo três movimentos: cantava, corria e dançava.
Adélia, de talhe menos delgado, parecia contudo mais elegante; suas formas harmoniosas tinham a graça da rosa nascente. Havia em sua beleza um certo ar de languidez, que se nota nas flores dos jardins, assim como nas moças criadas sob a atmosfera enervadora da cidade.\"","bookFormat":"EBook","publisher":{"@type":"Organization","name":""}}
O Tronco do Ipê (Classics of Brazilian Literature Livro 39)
José de Alencar foi um dos maiores escritores da história da Literatura Brasileira. Em seus muitos livros ele explorou uma ampla gama de estilos literários. O Tronco do Ipê é mais um dos romances de José de Alencar que exploram o regionalismo, situando a ação em uma fazenda do interior brasileiro.
Alguns trechos:
"Entretanto as duas meninas atravessavam o jardim. Alice, a mais esbelta das duas, tinha certa vivacidade e petulância que revelavam a flor agreste, cheia de seiva, e habituada a se embalar ao sopro da brisa, ou a beber a luz esplêndida do sol. Seus cabelos de um louro cendrado, encrespando em opulentos anéis, voavam-lhe pelas espáduas, e às vezes com a mobilidade da gentil cabeça escondiam-lhe o rosto como um véu. Nessas ocasiões, com um simples e gracioso meneio da fronte ela atirava sobre os ombros a nuvem fragrante que lhe sombreava o rosado das faces.
Quem lhe via os grandes olhos velutados de azul, sempre límpidos e serenos, e os lábios mimosos sempre em flor, comparava naturalmente essa alma pura a um lago sereno engastado em um berço de boninas e cuja onda límpida é apenas frisada pela asa diáfana do silfo, pela pétala da flor, ou pelo suspiro da aragem.
Seu passo era ágil, rápido e sutil como o passarinho, de que tinha a volubilidade e a gentileza. Ela desferia de si ao mesmo tempo três movimentos: cantava, corria e dançava.
Adélia, de talhe menos delgado, parecia contudo mais elegante; suas formas harmoniosas tinham a graça da rosa nascente. Havia em sua beleza um certo ar de languidez, que se nota nas flores dos jardins, assim como nas moças criadas sob a atmosfera enervadora da cidade."