ORAÆÂO FUNEBRE. Senhores:’De quantas grandezas existem sobre a terra nenhuma ç táo solida e duradoira como a da virtude, e mais sáo muitas, sáo quasi innumeraveis as poderosas circumstancias accidentaes a que o juizo dos homens costuma ligar a idça de grandeza. Aqui a accumulaåáo das riquezas exige os obsequios de todos; acolß a casualidade do nascimento requer a geral veneraåáo; n'uma parte a elevada cathegoria do emprego demanda o publico respeito; n'outra o valor nos feitos grandiosos da guerra ordena pela voz da fama, nem sempre justa, a admiraåáo universal: mas quando no livro da Providencia se voltou a ultima pagina da vida do homem, quando para esses obsequios, para essa veneraåáo, para esse respeito, para essa universal admiraåáo, jß náo existe senáo um cadaver, que em breve vae sumir-se na terra para náo tornar a apparecer, entáo levanta-se a razáo publica, independente, livre, e imparcialmente severa, a pezar em rigorosa balanåa o merecimento do morto, e a ensaia-lo na legitima pedra de toque, para que o verdadeiro oiro se separe da liga impura que lhe alterava o valor. Neste processo em que náo valem as astucias dos causidicos, em que ç inutil deprecar a benevolencia dos juizes, em que a interpretaåáo das leis náo soffre as duvidas e contingencias do fñro, lavra-se a sentenåa imparcial, que ou condemna o morto ao eterno esquecimento, e desprezo dos vindoiros, ou lhe adjudica um nome glorioso, e a saudosa recordaåáo de todas as idades. Náo vale a grandeza do nascimento ao que se esqueceu de imitar as virtudes dos seus maiores; náo aproveita a accumulaåáo das riquezas ao que as náo empregou honradamente; a qualificaåáo do cargo publico náo salva o que nelle faltou aos seus deveres, e nas cuias da balanåa poem-se de um lado a gloria militar, e lanåa-se na outra o sangue derramado, as injustiåas, as oppressòes, e os crimes