Não estava noite, porque o sol ainda não se tinha posto. Quer dizer, nem estava sol, mas escuro também não era. Nas cidades é difícil distinguir a luz natural. No oitavo andar do prédio forrado a vidro fosco, alguém procurava, num dos quinze apartamentos, uma qualquer coisa. Não usava luvas pretas nem estava mascarado. Era apenas uma rapariga bonita, sem calças de ganga mas de saia chegada ao corpo e de cabelo castanho a dar-lhe até ao pescoço. O sorriso não era maligno, porque não estava a sorrir. Com método, procurava, abria gavetas, portinholas, vasculhava prateleiras. Por fim, encontrou. Acariciou-a por momentos e meteu-a na bolsa que trazia ao ombro. Saiu, fechou a porta e desceu no elevador.