Supomos que ao leitor não causem estranheza frases do tipo “só eu sei a minha dor”, ou ainda, “meus mais profundos sentimentos ninguém jamais poderá compreender”, frases do nosso dia a dia mas que ilustram, de forma apropriada, a crença de que nossas sensações e estados psicológicos são, no que lhes resta de essencial, inacessíveis a outros sujeitos. Acreditamos , assim, em uma linguagem cujo sentido é privilégio apenas do próprio falante, uma linguagem privada.
Contudo, se a aparente trivialidade de uma crença nem por isto a justifica, não vemos porque não recorrer à lupa filosófica, em busca de razões que a justifiquem ou refutem.
Sabemos que ao leitor não deverá causar a mesma familiaridade: indivíduos que defendam uma linguagem privada e aqueles que chegam a duvidar da existência de outros sujeitos. Nem sempre temos o hábito de suspender nossas crenças quando sua aceitação nos parece trivial. No entanto, o exercício filosófico tem como uma de suas principais características reclamar elucidações ou argumentos que justifiquem determinadas maneiras de pensar, sobretudo quando essas parecem camuflar preconceitos nada triviais, ainda que o tempo já os tenha tornado bastante familiares.
Pretendemos, assim, mostrar que a simples defesa de uma linguagem privada, ainda que restrita ao âmbito das sensações e estados psicológicos, tem por fundamento certa concepção, onde o essencial para a determinação do significado de nossas expressões encontra-se para além, ou mesmo aquém, de nossa linguagem pública, talvez em algum processo oculto ou em entidades que transcendam nosso discurso.","bookFormat":"EBook","publisher":{"@type":"Organization","name":"Maria Clara Dias"}}
Kant e Wittgenstein: investigações acerca do discurso significativo
Frequentemente, em nossa vida cotidiana, nos deixamos levar por divagações acerca da natureza humana, do conhecimento e da própria linguagem. Colocamos certas questões e as afastamos com respostas rápidas, destinadas a aplacar a curiosidade ociosa , ou o inesgotável desejo de saber, que tem marcado o peculiar perfil do filósofo até os nossos dias. Restam, assim, em nossa linguagem ordinária, inúmeros vestígios deste processo, expressões consagradas pelo tempo, onde uma aparente trivialidade recobre pressupostos que um investigador atento jamais concederia.
Supomos que ao leitor não causem estranheza frases do tipo “só eu sei a minha dor”, ou ainda, “meus mais profundos sentimentos ninguém jamais poderá compreender”, frases do nosso dia a dia mas que ilustram, de forma apropriada, a crença de que nossas sensações e estados psicológicos são, no que lhes resta de essencial, inacessíveis a outros sujeitos. Acreditamos , assim, em uma linguagem cujo sentido é privilégio apenas do próprio falante, uma linguagem privada.
Contudo, se a aparente trivialidade de uma crença nem por isto a justifica, não vemos porque não recorrer à lupa filosófica, em busca de razões que a justifiquem ou refutem.
Sabemos que ao leitor não deverá causar a mesma familiaridade: indivíduos que defendam uma linguagem privada e aqueles que chegam a duvidar da existência de outros sujeitos. Nem sempre temos o hábito de suspender nossas crenças quando sua aceitação nos parece trivial. No entanto, o exercício filosófico tem como uma de suas principais características reclamar elucidações ou argumentos que justifiquem determinadas maneiras de pensar, sobretudo quando essas parecem camuflar preconceitos nada triviais, ainda que o tempo já os tenha tornado bastante familiares.
Pretendemos, assim, mostrar que a simples defesa de uma linguagem privada, ainda que restrita ao âmbito das sensações e estados psicológicos, tem por fundamento certa concepção, onde o essencial para a determinação do significado de nossas expressões encontra-se para além, ou mesmo aquém, de nossa linguagem pública, talvez em algum processo oculto ou em entidades que transcendam nosso discurso.