Um anjo assanhado, maroto, namorador, que furtivamente visitou a casa de uma nativa, passou a ser assunto predileto de ocupados e desocupados de Caruguraci. Nas ruas, nas esquinas, nas casas, nas festas inexistia tema mais excitante. Os meses se passaram e os olhos da localidade começaram a arregalar quando, um a um, todos os caraguracienses perceberam que a barriga de Tita Auxiliadora crescia vistosa e no formato arredondado. Grávida?! – O Messias trará desenvolvimento econômico e social para a nossa cidade. Virão turistas, muita prosperidade, saúde, emprego e alegria geral. – disse o prefeito, numa reunião com o seu secretariado. Todos se sentiam responsáveis por Tita e se comportavam como futuros padrinhos e madrinhas do anjo que ia nascer. Cozidos, assados, fritos ou crus os quitutes, doces e salgados chegavam ainda quentinhos ou fresquinhos à casa da grávida mais ilustre de Caruguraci. Fartura entre mentiras insustentáveis. Dona Tita a tudo aceitou sem esboçar reação. Os tempos eram de muito regozijo. Na certa, a situação se complicaria um dia, até porque só ela sabia que qualquer coisa poderia estar gerando, menos uma criança sagrada. Mas resolveu desconhecer o que lhe crescia por dentro, até porque, àquela altura, só incomodava a saudade e a ausência da filha amada.