“Ó minha bela dama, que, escondendo o semblante, amor me inspiras ao longe – exceto se, no sono, imprimes divina sombra no meu coração –, ou pelos campos, onde mais sublimes o dia e de Natura o riso esplendem; talvez tu o inocente século deleitaste que se chama de ouro, ou por entre a gente como alma leve voas? Ou quem sabe aquela sorte avara que de nós te escondeu para as eras futuras te prepara?
De em vida te mirar não me resta esperança, a não ser quando, só e desnudado, por caminho ignorado suba o espírito meu à peregrina morada. Ao começar dessa nova jornada, incerta e escura, imaginei-te como viandante por esse árido solo. Mas não há coisa alguma na terra que te iguale: e, mesmo se, contigo parecente, teus gestos evocando ou tua voz, seria menos bela certamente.” ","bookFormat":"EBook","publisher":{"@type":"Organization","name":"EMOOBY"}}
Cantos
Tradução completa e inédita para o português dos "Canti" (Cantos) de Giacomo Leopardi (1798-1837). Contém ao todo 41 poemas. Trata-se de mais um esforço para verter em português o texto de uma das obras máximas da poesia italiana. Publicada originalmente em 1831, teve várias edições, sofrendo acréscimos até 1845, quando se publicou, postumamente, em Florença a edição que tem servido de base para as edições e a crítica moderna. Leopardi é considerado unanimemente um dos grandes autores do século XIX e, certamente, um dos maiores poetas da Itália. Trecho do Canto 18 ("À sua dama"):
“Ó minha bela dama, que, escondendo o semblante, amor me inspiras ao longe – exceto se, no sono, imprimes divina sombra no meu coração –, ou pelos campos, onde mais sublimes o dia e de Natura o riso esplendem; talvez tu o inocente século deleitaste que se chama de ouro, ou por entre a gente como alma leve voas? Ou quem sabe aquela sorte avara que de nós te escondeu para as eras futuras te prepara?
De em vida te mirar não me resta esperança, a não ser quando, só e desnudado, por caminho ignorado suba o espírito meu à peregrina morada. Ao começar dessa nova jornada, incerta e escura, imaginei-te como viandante por esse árido solo. Mas não há coisa alguma na terra que te iguale: e, mesmo se, contigo parecente, teus gestos evocando ou tua voz, seria menos bela certamente.”