" À Farsa seguinte chamam Auto da Índia. Foi fundada sobre que üa mulher, estando já embarcado pera a Índia seu marido, lhe vieram dizer que estava desaviado e que já não ia; e ela, de pesar, está chorando e fala-lhe üa sua criada. Foi feita em Almada, representada à muito católica Rainha Dona Lianor. Era de 1509 anos.
Entram nela estas figuras: Ama, Moça, Castelhano, Lemos, Marido.
MOÇA Jesu! Jesu! que é ora isso? É porque se parte a armada? AMA Olhade a mal estreada! Eu hei-de chorar por isso? MOÇA Por minh' alma que cuidei e que sempre imaginei, que choráveis por noss' amo. AMA Por qual demo ou por qual gamo, ali, má hora, chorarei?
Como me leixa saudosa! Toda eu fico amargurada! MOÇA Pois por que estais anojada? Dizei-mo, por vida vossa. AMA Leixa-m', ora, eramá, que dizem que não vai já. MOÇA Quem diz esse desconcerto? AMA Dixeram-mo por mui certo que é certo que fica cá."